Em Outubro de 2004 com 24 anos e depois de concluir os estudos em Educação Física e Desporto, David Fernandes iniciou a experiência que viria a mudar a sua vida.
Durante a sua juventude tivera sempre o desejo de fazer algo por um mundo melhor, ajudar as pessoas que mais necessitavam. No entanto, não sabia se um dia teria a oportunidade mas sobretudo a coragem para o fazer. A coragem de trocar a família, os amigos e um projeto de vida normal com o trabalho, a casa e o carro, por algo maior, importante mas incerto e desconhecido. A coragem de mudar a postura de: "eu gostava de ir" para: "eu vou!".
David recorda o momento em que tomou a decisão. Seguia a pé pelo caminho de regresso a casa depois de mais um dia de estágio na escola. Ia entretido a pensar na conclusão do curso e no que, provavelmente, lhe esperava, um trabalho, um carro, uma casa... caminhava com esse pensamento na cabeça mas não se sentia feliz, não estava convencido que era isso que queria: Entrar na rotina? - pensava - Perder aos 24 anos o sentido de algo maior?
Foi então, que percebeu e se questionou: "Porque razão quero, aos 24 anos, ter tudo aquilo que posso ter aos 26? Porque razão quero entrar na rotina de uma vida que por rotina será igual aos 30, aos 40, aos 50? Qual é a minha pressa? Não! Quero realizar o meu sonho e fazer algo de bom pelas pessoas! Está decidido, vou para África durante um ano. Não tenho compromissos. É agora ou nunca e o nunca não é opção."
Decidido a realizar o seu sonho informou a família, os amigos e iniciou um processo de investigação sobre institutos e ONGs que poderiam estar interessados na sua disponibilidade para ajudar. Entre várias, surgiu a possibilidade de participar no projeto da União Missionária Franciscana (UMF) na área da educação. Depois de um processo de formação deu por si com o bilhete na mão e a mala às costas na porta do aeroporto para apanhar o avião com destino a Moçambique, Chimoio. Sozinho, levava com ele a foto do frei que o iria receber e a esperança de poder ajudar muitas pessoas.
Durante 11 meses viveu em Chimoio, província de Manica junto ao Zimbabué. Durante 11 meses leccionou no seminário, em infantários e num lar de crianças e jovens órfãs cujos pais morreram vítimas de HIV/SIDA. Por 11 meses lutou e trabalhou para ajudar as pessoas com quem se ia cruzando. Longe da minha família, numa realidade muito dura, deu o melhor para reforçar o esforço daqueles que, no anonimato, fazem um trabalho fantástico pelos mais necessitados.
Foram 11 meses onde ajudou mas sobretudo aprendeu bastante, por isso, não se sentia preparado para terminar o seu trabalho. Voltou a Portugal mas não para Setúbal, onde vivia antes, e aceitou trabalhar por mais um ano (2006) a dinamizar projetos de cooperação da UMF, agora diretamente na sede, em Leiria. Essa foi outra experiência extraordinária que lhe permitiu participar num projeto de curta duração na Guiné-Bissau (Março 2006) na área da saúde e em Moçambique (Agosto 2006) na área da educação.
Tinham passado 2 anos desde que deixara a minha família e os amigos. Estava cansado pelo desgaste que é causado pela distância e pelas experiências que vivera, em especial na Guiné-Bissau onde, sem contar, acabou por trabalhar com pessoas e crianças que fugiam, deslocados, da guerra que assolava o norte da Guiné.
Durante os 2 anos que se seguiram concentrou-se nos projetos pessoais, no trabalho e na família. No entanto, os apelos de ajuda daqueles que conhecera em Chimoio não paravam de chegar e com isso a sua angústia aumentava. Como os poderia ignorar estando ele no conforto e segurança da sua casa enquanto eles continuavam privados de vários bens essenciais? Foi então que, em 2008, com a preciosa ajuda de alguns amigos e familiares, criámos as condições para iniciar, em 2009, o programa de apadrinhamento de crianças necessitadas em parceria com a Missão do Divino Salvador - Irmãs Salvatorianas.
Nesse ano de 2009, em Agosto, voltou a Chimoio para avaliar o programa de apadrinhamento. O programa abrangia 37 crianças que graças ao apoio dos padrinhos podiam estudar com condições e sonhar com um futuro melhor. Foi nesse momento que percebeu, ao ver aquelas crianças juntas na escola, a correr sorridentes e com o olhar cheio de esperança, que jamais poderia deixar de ajudar.
O número de crianças órfãs e necessitadas crescera muito, além disso, era preciso equipar salas, abrir oficinas, construir furos de água, promover ações de sensibilização, formação sobre doenças... tanta coisa para fazer em prol de tantas pessoas e crianças que continuavam a viver abaixo do limiar da pobreza.
Tinha que encontrar uma forma de aumentar a sua capacidade de ajudar. Voltou à faculdade para fazer uma pós-graduação em desenvolvimento local onde conheceu pessoas fantásticas, verdadeiros exemplos de vida que o inspiraram e orientaram no trabalho.
Foi então que no dia 22 de Julho de 2010, novamente com a ajuda de alguns amigos e familiares, surgiu The Big Hand® e ganhou nova coragem, desta vez, a coragem para se despedir de um trabalho estável e voltar para Moçambique, Chimoio, por mais uns meses para assim reforçar o sonho de continuar, sempre, a lutar por um mundo melhor!